22.9.10

Que lindo

Tenho medo de perder a maravilha

de teus olhos de estátua e aquele acento

que de noite me imprime em plena face

de teu alento a solitária rosa.



Tenho pena de ser nesta ribeira

tronco sem ramos; e o que mais eu sinto

é não ter a flor, polpa, ou argila

para o gusano do meu sofrimento.



Se és o tesouro meu que oculto tenho

se és minha cruz e minha dor molhada,

se de teu senhorio sou o cão,



não me deixes perder o que ganhei

e as águas decora de teu rio

com as folhas do meu outono esquivo.



Federico García Lorca, in 'Poemas Esparsos'