23.3.11

"Merceeira Criativa"

Foto tirada um dia destes, de passagem.
Nunca lá entrei, mas gosto do conceito e da estética e pelo que sei tem um serviço excelente.
Todas as informações e novidades estão no site. O link está no nome.
É na Av. Guerra Junqueiro passem por lá :)

Já tive muitas “fases” na vida, tantas de “sobrevivência”. Numa delas, há cerca de 7/8 anos, fiz-me “merceeira”. A identidade posta à prova mais uma vez, desta vez das três… A responsabilidade enorme, do mais difícil e mais importante para mim, assegurar-lhes na certeza, não das palavras, mas dos gestos, que não precisavam ter medo (tanto o meu…) nem deixar de sonhar, e que é bom viver.
Ora cortavam a electricidade e eu fazia as ilustrações para a PAIS&Filhos à luz das velas, ora cortavam a água e os sorrisos-de-aguarelas nasciam do “luso”. Um romance chique, sorria-lhes eu…
Na urgência que tomava forma de permanência aos meus olhos pasmados, mas não assustados, por elas... A resiliência aos gritos a acudir as emoções também as delas que se queriam estimadas.
Era preciso comer, e tentar travar a escalada do descalabro. Faço o quê, assim tão rápido e tão de repente?
Chamei-lhe “O da Joana”, o novo serviço de entregas na “Sua(nossa) Rua”, sabem, a Vossa vizinha, a do Dálmata. Vai escolher por si os legumes e frutos melhores (pena que ainda não se falavam dos biológicos...) e entregá-los directamente em Vossas casas. O logótipo, as t-shirts azuis escuras, as fichas de encomenda, o conceito, o MARL às 5:30 da manhã (até aí nem sabia que tal coisa existia), onde fiz amigos da terra, sacos kraft, porque a estética conta, uma balança de bolos emprestada, uma máquina de calcular com um rolo de papel (sempre quis ter uma :), a arrecadação feita  armazém diário na logística das entregas, sorrisos, tantos, sempre por elas, também aos vizinhos, agora clientes, que as tinham visto crescer…
Passei a prova, mais uma. Não a do negócio, que o comemos literalmente, na pouca margem que não chegava, para tudo. Aquela das recordações das filhas que se lembram da fase tão difícil mas com alegria e a mãe uma Merceeira Criativa.
Que medo… Como será que O consegui disfarçar (até de mim...)? Até aquele das entrelinhas? Vender batatas e cebolas aos vizinhos?... Dei a cara, e tudo o que tinha. Tem sido sempre assim. Nem me passou pela cabeça ser posta em causa e por isso não fui. Tenho sorte!

Lembro-me sempre de uma mercearia, à saída do metro do Saldanha, no caminho que fazia a pé, vinda do liceu, para casa dos meus avós no Arco Cego. Logo à entrada da porta, sacos grandes de pano, com feijões de todas as cores, onde num gesto de puro prazer, mergulhava as mãos :)