8.4.11

Balanço em tempo morno

Foi uma semana difícil e intensa de trabalho. Tenho andado a sentir tudo muito e mais denso. Aos poucos a brecha que o FB representa na passagem da informação, da qual fiz questão de me proteger há anos porque tive que optar na pouca margem que tinha de bem estar, está a aumentar e eu começo a sentir os efeitos… Sei que vou acabar por decidir alguma coisa acerca disto. Sei que por feitio não me demoro muito a queixar-me, a anunciar razões e espiar culpas para o meu desconforto. Sou na prática absolutamente defensora do “se estás mal muda-te” ou reorganiza-te. Porque na verdade levo-me muitíssimo a sério, mas também levo os outros tão a sério que mesmo defendendo as minhas razões, como sendo as mais acertadas (para mim, porque minhas), acredito que as dos outros o são igualmente… A coexistência de várias verdades, porque nunca nada é absoluto, é sempre possível. Os pressupostos de vida, de experiência, de sentidos, de valores, de biologia, de percepção, de atitude, de capacidades, de potencial, de cada um, consigo próprio e em interacção com todos e tudo o que nos rodeia, definem a complexidade humana para o bem e para o mal. Acredito também, cada vez mais na coragem, acredito que é minha a responsabilidade de me “esforçar” para ser feliz, sem que isso signifique mudar os outros. E coragem tem sido uma das palavras que ultimamente, naqueles “zooms” ou Palavras-chave do momento, como lhes chamo eu, me tem surgido com mais frequência… Coragem e “provincianismo”, em sentidos muito “rebuscados” meus. Sim, são as duas palavras do momento. E agora que reparo nelas escritas, assim perto uma da outra, reparo o quanto, numa medida vasta, são palavras antónimas.
Tenho tido Invernos difíceis, fisicamente e psicologicamente. Quando se está “sozinha” é mais “pesado”. Faltam abraços, cumplicidades, partilhas, risos e paixões internas que aquecem por dentro e nos protegem do frio de fora. De há uns anos para cá que tenho inveja dos ursos e gostava de poder hibernar. E para mim, que antecipo tudo o que existe de bom, o mês mais difícil não é Fevereiro, mês antes da Primavera. Acho que é Novembro, porque já me pesa o cinzento e ainda só vai a meio. Já só tenho uma vaga ideia de mim a gostar também do frio, enquanto boa possibilidade de estar confortável e serena em casa a ler um bom livro a beber chá e a ouvir a chuva cair. Tão vaga como aquela de mim em Agostos inteiros na praia, debaixo do toldo de todos os anos a conversar com quem teve vidas longas e preenchidas (adoro conversar com quem teve longas vidas de histórias e gosta de as partilhar), de outros tempos e a ler livros da Pearl Buck. Não sou saudosista, não gosto de saudosismos porque são sintomáticos de incapacidade para viver o presente com entusiasmo de futuro que ainda está para vir e porque são pretextos de mau estar. Ainda assim tenho, volta não volta, lampejos de saudades de mim “ali” naquela medida. Acho o mesmo em relação às mágoas. Limitam-nos, condicionam-nos, pesam-nos. Eu sei, sabemos todos, que é assim e por isso ou as negamos ou nos alimentamos delas. Mais uma vez a coragem… No encarar das dores que não conseguimos ou pudemos evitar. Que provavelmente nos apanharam de surpresa, no experimentar do que ainda não tínhamos vivido. A coragem de as olhar de frente com humildade e não fingirmos que não existem, por medo de perdermos o pé, por medo de não aguentar a dor… A coragem de não lhes subestimar a medida e de as atravessar de peito aberto, de preferência a sorrir porque nada é permanente e é bom viver.
Chegou entretanto a Primavera, tem estado calor e as noites estão mornas… Os corpos, todos, os vivos e não só, entram em expansão, e eu gosto tanto. Sou expansiva por natureza, acho que por ser corajosa na forma como me entrego à vida. É tempo de beijos, agora mais do que os abraços de inverno, de riso e de alegria, num entusiasmo que se quer de paixão. Mais uma vez a coragem para se viver de intensidade em intensidade, não necessariamente espalhafatosa, o que nos preenche, alimenta e constrói numa soma de vivências de verdade, que nos permitirão ir desfrutando com gosto e sentido a vida, sempre a olhar para a frente ainda que por vezes, tantas, difícil.
Termina agora um ano que emocionalmente foi muito duro e difícil. Mais uma vez, num olhar rápido, olho para ele e reparo o quanto me fez “crescer” e “avançar” em mim. E também por isso já quase consigo estar grata a tudo o que de menos bom me calhou e do qual não me consegui proteger a tempo.
Vêm lá tempos difíceis, todos sabemos que sim, mas ao mesmo tempo sinto que vêm lá tempos bons para mim  Só tenho que de facto, me proteger do que neste momento não me está a fazer bem, e concentrar-me no que me tem “piscado” o olho de bom por descobrir e viver.
Está tudo à nossa volta e somos nós que decidimos a cada momento onde pousar as emoções e o olhar. E eu que sei e já aqui o referi, que mereço partilhar a existência, com quem não dependa de mim para ser feliz, e sim com quem exista de provas dadas na capacidade de também olhar o mundo assim, estou a andar  :)
Haja coragem para se ser feliz!
Pois... Agora é que são elas... :(