9.7.11

Acreditar-no-Pai-Natal

(todos os natais, o Pai Natal feito por ela, ainda anda por cá)

Quando a M. era pequena e andava numa escola dita um bocadinho "especial", a questão de acreditar ou não no Pai Natal, nem sequer se punha. Era raro o menino ou menina, por menos idade que tivesse, que naquele universo de famílias, fosse levado a acreditar numa história assim. Era vista principalmente, como um "enganar-de-criancinhas", ainda para mais sabendo que viria a ter de ser desmascarada mais tarde ou mais cedo, e fazer dos adultos responsáveis, praticamente uns aldrabões aos olhos das suas crianças :) A sensação (parva, acho eu agora) que aqueles adultos tinham era na maior parte dos casos esta...
Entretanto fomos para Itália e a M. no Natal, na sua nova escola, deparou-se novamente com o assunto. Ali, contrariamente a cá, não há menino nenhum que não acredite no Pai Natal e até mesmo na "Befana", a bruxa que juntamente com os reis magos vem trazer doces ou carvões aos meninos bem ou mal comportados. 

- Mãe! Tenho uma novidade muito boa para te contar!
- Sabes?! - Afinal o Pai Natal existe!!! :))
... Ó M.... Lembraste que já falamos disso? Em Portugal... Já te expliquei... A história que alguns pais contam a alguns meninos, porque provavelmente também lhes contaram a eles em criança...
- Não mãe! Não estás a perceber!  Afinal é mesmo verdade!!
- M…
- Foi a professora que confirmou, eu perguntei-lhe! E as professoras não mentem! Eu tentei explicar a uma amiga que o Pai Natal não existia e ela ficou a olhar para mim e disse que eu estava maluca, e por isso disse-lhe que a minha mãe me tinha explicado, que alguns pais contavam aquela história… Fomos falar com a professora e eu contei-lhe também que tu me tinhas dito a verdade…Ó mãe, a professora disse que era verdade, que ele existe!! Ele existe!!! Não é giro?! Estou muito contente, por te teres enganado… :)

Bem, foi uma trapalhada de pensamentos… Andei horas a hesitar entre passar por mãe aldrabona, por deixar que a palavra da professora fosse de maior confiança do que a minha..., e deixa-la viver aquela que afinal de contas era uma alegria (estava à vista), sinal de inocência ajustada e possível apenas naquela idade, comum a todos os meninos do novo universo dela…

Fui falar com a professora, ainda falava mal italiano e lembro-me que não foi fácil :) Depois de algum pasmo e estranheza, acabamos por chamar a M. à parte e a professora lá lhe explicou que de facto mais do que o prazer do Pai Natal existir, a mãe era de confiança… E que ainda assim os outros meninos, todos, não podiam saber de nada, nem desconfiar e por isso ela, embora da idade deles tinha que os “proteger” da verdade, como faziam os adultos…
A M. saiu da escola pela mão da mãe-de-confiança, e quando chegou a casa virou-se para mim com um ar pensativo e decidido e disse:

- Sabes mãe, estive a pensar e percebi que se acreditarmos muito numa coisa é como se ela fosse verdade, e eu quero acreditar… A partir de agora acredito no Pai Natal, olha que acredito mesmo! E por isso existe :)
Eu muito espantada a olhar para ela feliz, e tão feliz por ela, que escolheu ser criança.
Ela tinha 6 anos, e acreditou o tempo que quis acreditar.
Eu tinha 24 anos :) e, ainda hoje, "acredito-quase":)